Seleccionaram-se três povoamentos: no pólo da Mitra da Universidade de Évora (Valverde), na Herdade de Feijoas do Ramos (Torre de Coelheiros) e na Herdade de Alfaiates (entre Oriola e Santana, concelho de Portel). As distâncias entre eles são, aproximadamente, 25 Km entre Mitra e Feijoas, 40 Km entre Mitra e Alfaiates, e 15 Km entre Feijoas e Alfaiates.
As parcelas de Mitra e Feijoas foram delimitadas arbitrariamente em redor dum sobreiro (que foi a respectiva árvore número 1) de modo a abranger-se em seu redor um número equilibrado de adultos das duas espécies em estudo. Em ambas há zonas onde predomina azinheira ou sobreiro, mas a proximidade das duas espécies é muito grande para todas as árvores. Alfaiates é uma pequena mancha contendo 20 sobreiros disseminados entre azinheiras, num povoamento onde estas predominam largamente (Apêndice I, secções A1 e B1-3).
A maior parte dos sobreiros destes povoamentos encontram-se em fase de exploração de cortiça amadia, e presume-se que as azinheiras, pelo diâmetro do tronco, tenham uma idade comparável. Em todos existem árvores jovens, que (excepto algumas em Mitra) não foram marcadas.
Os solos são “mediterrânico pardo de xistos e grauvaques” em Feijoas e Alfaiates , neste último em fase delgada, e “litossólico não-húmico de gneisses ou rochas afins” na Mitra.
Como é detalhado na tabela 3.1, um total de 156 árvores adultas (91 sobreiros e 65 azinheiras) foram marcadas no conjunto destas parcelas, e na frutificação de 1998 fez-se a amostragem das descendências de 89 delas, de que se analisaram ao todo 1141 plantas.
Tabela 3.1 — Localização dos povoamentos mistos seleccionados (cf. Apêndice I secção A1) e respectiva amostragem (adultos e plantas das sementes produzidas em 1998) que foi objecto de análise.
Propriedade |
Localização |
Topónimo de referência |
Sobreiros analisados |
Azinheiras analisadas |
Mitra |
38º 31,7' N 8º 01,4' W |
Universidade de Évora/Valverde |
39 adultos e 19 descendências (125 plantas) |
25 adultos e 19 descendências (200 plantas) |
Feijoas do Ramos |
38º 23,6' N 7º 51,3' W |
Torre de Coelheiros |
32 adultos e 16 descendências (187 plantas) |
20 adultos e 11 descendências (90 plantas) |
Alfaiates |
38º 17,3' N 7º 50,9' W |
Santana |
20 adultos e 14 descendências (348 plantas) |
20 adultos e 10 descendências (191 plantas) |
Também se fez a análise de 77 plantas da frutificação de 1997 na Mitra.
A definição de “puro” para uma parcela de referência, para além da que é usualmente utilizada com base na observação de praticamente 100% de árvores duma das espécies a considerar, implicava escolher parcelas suficientemente afastadas da ocorrência natural da outra espécie de modo a garantir com alguma segurança que a possibilidade de hibridismo seria bastante reduzida, actualmente como no passado pelo menos mais próximo. Embora as características de dispersão destas espécies tornem essa garantia virtualmente inatingível, a localização das três populações seleccionadas é bastante afastada dos limites de distribuição da outra espécie, o que pode constituir uma garantia adicional de “pureza” (tabela 3.2):
Tabela 3.2 — Localização das parcelas de referência e número de plantas objecto de análise. À direita, referenciação à distribuição de sobreiros (verde) e azinheiras (laranja) [Atlas do Ambiente 1977].
A identificação das plantas de Monte Branco, no viveiro, era “Santiago do Cacém”, e é essa a que se utilizou durante o trabalho.
Foi recomendado à Direcção Regional de Agricultura do Alentejo, que se encarregou destas colheitas de semente, que apenas algumas sementes fossem colhidas por árvore de modo a assegurar uma boa representação da diversidade genética de cada população.
Foi feita uma amostragem exploratória de plantas de sobreiros do projecto FAIR 1 CT 0202 [Varela 2003], representativa de parcelas em geral puras abrangendo toda a área de distribuição natural da espécie (essencialmente, a bacia ocidental do Mar Mediterrâneo). Este material foi obtido durante a frutificação de 1996, transplantado em 1998 para as parcelas definitivas, duma das quais (Herdade da Fava, Ermidas do Sado) se colheu o material foliar analisado, num total de 42 plantas.
Ao longo do projecto estudaram-se 9 árvores que se confirmaram, pela análise isoenzimática, serem híbridos. Apenas 3 foram indicadas pela Direcção Regional de Agricultura do Alentejo (a de Sesmarias e as de Outeiro) a tempo de obter as respectivas descendências na frutificação de 1998. À medida que se ia indagando junto de proprietários, caseiros, técnicos e guardas florestais e outros, foi sendo feito o reconhecimento e registada a localização doutras árvores mais ou menos evidentemente coincidentes com o tipo híbrido, das quais 6 foram confirmadas por análise electroforética (tabela 3.3). Em 2003 conseguiu-se uma amostra de pólen de 3 destas árvores (SES, ALC e CAB, cf. Apêndice II secção E).
Tabela 3.3 — Abreviatura, localização e morfologia geral dos híbridos (cf. Apêndice I secções A2 e C2), e amostragem de descendências (frutificação de 1998) e pólen (Primavera de 2003).
Abrev. |
Propriedade |
Localização |
Topónimo de referência |
Morfologia |
Amostragem |
ALC |
Alcarou de Baixo |
38º50,4'N 8º02,2'W |
Pavia |
Árvore desenvolvida, casca suberosa |
pólen |
CAB |
Mata Nac. de Cabeção |
38º57,9'N 8º06,0'W |
Cabeção |
Árvore desenvolvida, casca suberosa |
pólen |
MRM |
Marmeleira |
38º47,5'N 7'42,1'W |
Évoramonte (apeadeiro) |
Árvore desenvolvida, casca fina |
|
SES |
Sesmarias |
38'17,5'N 8º00,3'W |
Alvito |
Árvore desenvolvida, casca suberosa |
13 plantas pólen |
SM1 |
Outeiro |
38'27,0'N 7º55,0'W |
S. Marcos da Abóbada |
Árvore desenvolvida, casca suberosa |
42 plantas |
SM2 |
Outeiro |
38'27,0'N 7º55,1'W |
S. Marcos da Abóbada |
Árvore desenvolvida, casca pouco suberosa |
45 plantas |
SM3 |
S. Marcos |
38'26,1'N 7'53,9W |
S. Marcos da Abóbada |
Árvore desenvolvida, casca fina |
|
SM4 |
S. Marcos |
38º25,9'N 7º54,2'W |
S. Marcos da Abóbada |
Árvore jovem, produtora de semente, casca fina |
|
VR |
Vale de el-rei |
38º54,6'N 8'00,0'W |
Malarranha |
5 rebentamentos de toiças com algumas décadas de desenvolvimento, casca fina |
|
Exceptuando VR, relativamente isolada (mas a menos de 1 Km dum montado misto), cada uma destas árvores tinha na sua imediata proximidade azinheiras (ALC, MRM, SES, SM1–4) ou sobreiros (CAB, MRM, SM4).
D — Sobreiros de cortiça preguenta
Os 3 povoamentos seleccionados encontram-se na Herdade de Montinho (Nossa Senhora de Machede, Évora), Herdade de Vale do Rico Homem (São Manços, Portel) e Herdade de Chaminé (Mora), e em todos predominam sobreiros adultos, em fase de produção de cortiça amadia. Conforme a recomendação da Direcção Regional de Agricultura do Alentejo, a visita inicial às duas primeiras coincidiu com a tiragem da cortiça, o que permitiu junto dos tiradores aprender a reconhecer pelo entrecasco as árvores cuja cortiça fosse mais manifestamente preguenta. Neste bloco de amostragem contam-se assim 15, 2 e 18 árvores, respectivamente. A amostragem incidiu essencialmente em árvores de cortiça preguenta, e, como tendiam a concentrar-se em manchas relativamente compactas, uma visita posterior à He. Montinho, aumentou a amostragem numa pequena zona desta parcela de 15 para 20 árvores (cf. Apêndice I secções A3 e B4). A cortiça destas últimas não foi considerada tão marcadamente preguenta.
Amostras de folhas foram colhidas de indivíduos adultos de várias espécies da ordem Fagales (tabela 3.4):
Tabela 3.4 — Lista doutros táxones amostrados expressamente para enquadramento comparativo de sobreiro e azinheira analisados, e locais de colheita respectivos. O número de indivíduos de cada táxone é dado na última coluna.
Espécie |
Colheita |
Nº |
Betula pubescens subsp. celtiberica (Rothm. & Vasc.) Rivas Martinez |
Jardim Botânico da Universidade de Lisboa |
2 |
Castanea sativa Mill. |
Parque Natural da Serra de São Mamede |
2 |
Casuarina cunninghamiana Miq. |
Jardim-Museu Agrícola Tropical |
2 |
Corynecarpus lævigata JR & G Forst |
Jardim Botânico da Universidade de Lisboa |
2 |
Fagus sylvatica L. |
Jardim Botânico da Universidade de Lisboa |
2 |
Juglans regia L. |
Jardim Botânico da Universidade de Lisboa |
2 |
Myrica faya Ait. |
Jardim Botânico da Universidade de Lisboa |
2 |
Quercus alnifolia Poech |
Jardim Botânico da Universidade de Lisboa |
1 |
Quercus canariensis Willd. |
Jardim Botânico da Universidade de Lisboa |
1 |
Quercus coccifera L. |
Jardim Botânico da Universidade de Lisboa |
1 |
Quercus ilex L. ssp. ilex |
Jardim Botânico da Universidade de Lisboa |
1 |
Quercus libani Olivier |
Jardim Botânico da Universidade de Lisboa |
1 |
Quercus pyrenaica Willd. |
Parque Natural da Serra de São Mamede |
2 |
Quercus rubra L. |
Mata Nacional de Cabeção |
1 |
Quercus suber L. |
Parque Natural da Serra de São Mamede |
1 |
Outras análises abrangeram um âmbito muito mais alargado de espécies, mas como o seu interesse é marginal ao presente trabalho, só se listam as mais relevantes na correspondente secção dos resultados (cf. “Resultados” parte IV secção B).