«O
que é Protocolo de Análise de Dados Quantitativa?»
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Carlos Alberto da Silva
Universidade de Évora
Departamento de Sociologia
Resumo
Falar em análise de dados em ciências humanas e sociais e no processamento informático, é falar da automatização de um sistema de informação, é abordar a coordenação de procedimentos para a simplificação da leitura dos dados recolhidos.
Quando falamos em informatizar os dados referente a um dado problema, tal procedimento sempre foi entendido como um mero procedimento tecnicista. Hoje, a perspectiva é outra. O que pretendemos dizer aqui é que a adopção de acções de automatização da informação conducentes à análise e à interpretação dos dados devem incidir, não só em processos precisos e inteligíveis, mas também têm que ser interpretados à luz do contexto a que pertencem para que haja um esclarecimento adequado da problemática em estudo. Ou seja, a conversão dos dados de um problema num sistema de informação a ser submetido a tratamento automático não deve ser entendido num sentido restrito, por um lado, como um simples processo de codificação e de quantificação (operações aritméticas) das informações recolhidas. Por outro lado, não devemos confundir a noção de que a informatização da análise de dados seja um mero acto de processamento informático individualizado, nem pensarmos que ela se redunda a um acto de codificação linear dos dados a tratar. Os dados valem pela importância e pertinência que conseguirmos vir a interpretá-los, após um adequado tratamento ...
Apesar, de existir no mercado imensas aplicações, este facto não significa que o processo de informatização da estrutura da análise seja minimizada. É necessário não esquecermos dos seguintes procedimentos metodológicos (Reis, 1997):
1º. Planificação da análise do problema:- Fase em que são determinadas com rigor os objectivos de estudo, o universo de estudo, o processo de amostragem, conceitos subjacentes ao estudo do problema, as hipóteses de ensaio necessárias para a clarificação e solução do problema e as variáveis a estudar. Constroi-se e testa-se nesta fase os instrumentos de recolha da informação. Discutem-se ainda nesta fase as técnicas de análise a tratar. Em síntese é a fase da descrição completa do problema a estudar e que devemos deter uma visão antecipada da sua solução, através da planificação da recolha de dados ou de informações (entrada), bem como o delineamento da estratégica de tratamento (procedimentos específicos) dos resultados ou das informações esperados (saída).
2º. Concepção do protocolo analítico propriamente dito: - Fase onde é delineado um esquema lógico do protocolo analítico a implementar num computador (p.e. dicionário de variáveis, descrições e testes estatísticos a adoptar) e que deve cumprir os requisitos das especificações determinadas na fase da análise. É uma fase prévia à informatização, onde são definidas as especificações que os dados a tratar devem obedecer, (os inputs, o processamento e os outputs).
3º. Recolha de dados: - Fase do ensaio dos instrumentos de recolha e da aplicação final dos mesmos.
4º. Implementação da matriz de dados: - Fase em que se realiza a passagem da informação recolhida a um esquema estruturado, lógico e codificado segundo os princípios da aplicação informática seleccionada. O desenho desta matriz facilita o estudo do problema, nomeadamente para a clarificação da posição das variáveis a tratar, as fórmulas e expressões a ser utilizadas, o tipo de dados envolvidos (numéricos, alfanuméricos, etc.), o volume (quantidade) de dados existentes, as funções envolvidas, que permitam identificar todas as fórmulas e relações a estudar. Ainda nesta fase, devemos efectuar os testes da base de registos para verificar as codificações e comparar os resultados preliminares com as especificações traçadas.
5º. Análise, tratamento e documentação dos resultados: - É a última fase, onde é elaborada toda a documentação referente aos procedimentos efectuados que explicitam os resultados alcançados.
A este conjunto de procedimentos pré e pós-recolha de dados, designamos de protocolo de procedimentos para a análise de dados, que em termos estritos, está objectivado, por um lado, à definição de um cronograma de actividades tendo em atenção os custos e o tempo necessário para as actividades de computação, e por outro, à conversão dos dados recolhidos num suporte magnético, à verificação dos erros e ao tratamento de dados propriamente dito.
Tomando como exemplo um dado problema, em que a sua solução seja perspectivada pela via da análise extensiva e com uma abordagem quantitativa. Após a clarificação dos conceitos, definido as hipóteses e delimitado os indicadores e as variáveis em estudo, devemos planificar de forma cuidada um protocolo de procedimentos para a recolha, tratamento e análise da informação. Sugerimos as seguintes etapas (Reis, 1997):
1. Estudo preliminar do instrumento, para a verificação da linguagem das questões. Podemos consultar um painel de especialistas.
2. Criação de um dicionário de códigos para o instrumento inicial.
3. Aplicação do pré-teste numa amostra da população-alvo.
4. Criação de uma matriz de dados, que pode ser do tipo de uma base de dados, de formato fixo ou livre, a fim de armazenar as respostas recolhidas com o instrumento inicial.
5. Avaliação da fiabilidade e da validade interna e externa do instrumento através da análise dos resultados do pré-teste.
6. Procedimento das alterações que houver lugar.
7. Decisão da estratégia de tratamento estatístico.
8. Criação do dicionário de códigos para o instrumento.
9. Criação de uma matriz de dados final, cujo formato pode ser do tipo efectuado para o registo da informação inicial.
10. Aplicação do instrumento final.
11. Verificação dos erros nos dados recolhidos, das respostas ausentes e incompletas.
12. Codificação das respostas às perguntas abertas, se as tivermos no instrumento.
13. Introdução dos dados no computador e a limpeza da matriz de dados, para verificar os erros de entrada de dados.
14. Análise de dados propriamente dita.
Em resumo, todos os procedimentos para a análise de dados em ciências humanas e sociais não estão dissociados de procedimentos racionais, fundados nomeadamente nos seguintes critérios:
1. Perspectiva da resposta a questões e a soluções a problemas, alcançáveis pela via da operacionalização dos enunciados, sob a forma de hipóteses, baseado numa teoria ou sistema de teorias.
2. Apoiado na observação e recolha de dados através de técnicas, validadas pela fiabilidade e consistência interna e externa do instrumento utilizado.
3. Estruturada para a verificação das hipóteses, a interpretação e a explicação dos fenómenos sociais, através da aplicação de métodos quantitativos e técnicas estatísticas, quer, no sentido da mensuração de novos dados, quer para efeitos de renovação, confirmação ou infirmação dos conhecimentos sobre um dado conjunto de proposições ou teoria, considerados válidos para a sustentação da explicitação de certa realidade social.
Aconselhamos ao leitor a não olhar a análise de dados como um mero processo estático, sendo conveniente o estudo das metodologias, das técnicas de investigação e dos procedimentos quantitativos e qualitativos para o tratamento da informação.
Nota: 1) A 1ª versão electrónica do presente artigo foi publicada em 1997.
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© xeque-mate, 1997 casilva
Março 12, 2001