Face às dúvidas que persistem sobre a origem híbrida dos sobreiros de cortiça “preguenta”, a qual é argumento incontornável na discussão recorrente sobre os povoamentos mistos de sobreiro e azinheira em Portugal, e para obter estimativas credíveis da taxa de hibridação nestes povoamentos, estabeleceram-se critérios genéticos de discriminação entre as duas espécies e os híbridos. O presente trabalho documenta os seguintes progressos nessa investigação:
I. Descoberta e validação de marcadores isoenzimáticos para a distinção entre sobreiro e híbridos ou descendentes destes;
II. Confirmação do estatuto híbrido de árvores conhecidas como carvalhos cerqueiros através de marcadores genéticos;
III. Estimativa duma taxa de hibridação muito baixa (inferior a 0,1%), nas parcelas mistas estudadas;
IV. Detecção em sobreiros como em azinheiras de marcadores de introgressão da outra espécie;
V. Análise preliminar de sobreiros de cortiça preguenta;
VI. Análise preliminar das descendências de híbridos, incluindo a demonstração de que intervêm grãos de pólen de qualquer uma das espécies parentais, assim como uma taxa relativamente elevada de aparentes autopolinizações;
VII. Análise preliminar das frequências alélicas em dois loci marcadores, um de cada espécie, e dedução dum valor neutral de Ne relativamente baixo (entre 5 e 7);
VIII. Demonstração da mesma metodologia noutras espécies do género Quercus e táxones aparentados.
Embora ainda sem carácter definitivo, os valores estimados da taxa de hibridação entre sobreiro e azinheira indicam tratar-se dum evento geralmente excepcional, podendo admitir-se que localmente seja mais frequente.
O método desenvolvido pode ser aplicado em larga escala para a detecção de híbridos em materiais de propagação de sobreiro, com custo relativamente baixo, e pode ainda contribuir para o esclarecimento de várias questões relacionadas com a biologia da reprodução das duas espécies e dos híbridos entre elas, na continuação do que o presente trabalho estudou preliminarmente.